Em complemento da exposição de cartazes e folhetos alusivos à Guerra Colonial, inaugurada no Museu Municipal Álvaro Viana de Lemos, realizou-se um debate subordinado ao mesmo tema. Assim, no Dia do Armistício, celebrado em 11 de novembro de 1918 como o fim simbólico da Primeira Guerra Mundial, esteve presente na mesa de debate Alcides Martins, Henriqueta Oliveira (vereadora da cultura), José Redondo como moderador, Fernando Hipólito (coleccionador dos exemplares expostos) e Onofre Varela. Todos os homens da mesa combateram em diferentes colónias portuguesas.
40 anos depois
Passados mais de 40 anos, a Guerra Colonial continua a ser um assunto controverso, de lembranças e emoções ainda muito presentes. “É importante que os mais novos compreendam o que foi a guerra colonial, percebam como se vivia e fazia a campanha. Seria de paz, ou de guerra?”, desafiou Alcides Martins, introduzindo uma questão que provocou alguma discórdia.
Intervindo da assistência, Carlos Esperança, ex-militar em Moçambique, defendeu que a propaganda – conforme testemunhava a exposição – era de guerra. Nas suas palavras, “embora não pareça, os cartazes representam o regime ditatorial”.
Discordando, Alcides Martins, numa contextualização histórica sobre a colonização através da cultura que, segundo afirmou, caracterizava a actuação militar, defendeu que os portugueses foram colonizadores aculturantes. Afirmando que deixámos marcas da nossa cultura, assinalou as dificuldades enfrentadas pelos portugueses em África, sobretudo a doença da malária.
Já Joaquim Belisário, ex-militar na Guiné, apesar de considerar que a presença portuguesa se caracterizou por uma partilha de conhecimentos, considera que a atividade militar portuguesa foi escassamente amiga. Apesar de pouco apoiado, Alcides Martins continuou a frisar que “a guerra dos portugueses era justa, não podia ser de outra forma (…) tínhamos um dever para com a história”. Já na ótica de José Redondo, Portugal podia ter tido outra atitude, evitar-se-iam as mortes, danos físicos e psíquicos daqueles que participaram.
Soldado 191
Entre partilhas de experiências vividas, Onofre Varela contou como foi a sua passagem pela guerra colonial, como soldado número 191, que viria a dar o nome ao seu livro, cuja apresentação encerrou a sessão. “191 – Memórias de um soldado em Angola” narra a história de um soldado forçado a ser militar numa guerra que não era a sua.
No cenário da guerra, o caricaturista foi co-autor do jornal do seu batalhão, integrou um grupo musical, representou teatro incluindo ‘stand-up comedy’, imitações, truques de magia, entre outras formas de entretenimento destinadas a amenizar as dificuldades com que se defrontavam os militares e a motivá-los.
Varela, que chegou a conhecer o castigo da prisão e outras situações delicadas, faz desses e outros episódios um relatado donde resulta um livro descontraído. Porque até a guerra tem momentos hilariantes entre memórias e histórias dramáticas.
Patrícia Carvalho
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