“Quatro destaques de Cannes 2018”
Bruno Fernandes
maryotshka@gmail.com
Terminou este fim de semana aquele que é o maior festival de cinema da Europa: no soalheiro sul de França, à beira do mar, é em Cannes que a cinefilia conflui em Maio, durante a semana em que esta pequena cidade francesa pulsa a Sétime Arte. A edição deste ano, com um júri presidido pela actriz Cate Blanchett entregou a Palma de Ouro ao filme japonês “Shoplifter”, de Hirokazu Kore-Eda, mas olhando para os filmes que passaram este ano por Cannes, podemos destacar quatro obras, entre competição e fora dela, a que convém prestar atenção.
1 – “Cold war”: Pawel Pawlikowski tem marcado o cinema europeu dos últimos anos. Depois de ter vencido, em 2014, o Oscar de Melhor filme estrangeiro com o excelente “Ida”, vem a Cannes vencer o prémio de realização pelo seu novo filme, uma história de amor ambientada na Polónia do início da Guerra Fria e que é baseada na história real dos pais do polaco. O cinema de Pawlikoski, que na sua contemplação guarda sempre um centro emocional visível e que aproxima o espectador das suas obras, é sempre de antecipar e numa nova experiência a preto e branco, as expectativas estão altas.
2 – “BlacKkKlansman”: Spike Lee não faz um filme bom desde 2002, onde “Inside man” ainda fez ter esperança naquele que foi um dos realizadores marcantes da década de 90. Em tempos de reafirmação do imaginário afro-americano, a voz cinematográfica que o marcou, por vezes para um lado agressivo gratuito e bacoco diga-se, sai de Cannes com um Gande Prémio do Júri. Numa obra de tom de comédia, onde um detective negro tenta infiltrar o Klu Klux Klan na década de 70, parece fazer regressar Lee à relevância. Espera-se que case por fim uma boa história com a ferocidade com que o realizador costuma tratar a temática racial.
3 – “Capernaum”: O novo cinema árabe não se tem restringido ao Irão (representado em Cannes este ano por Jafir Panahi e Ashgar Farhadi, os seus dois nomes maiores). A libanesa Nadine Labaki tem construído uma sólida filmografia baseada na observação dos costumes do cidadão comum libanês, onde há espaço para metáforas políticas como “Where do we go now?” e algo de semelhante a uma comédia romântica com a divertida história de esteticismo de “Caramel”. No seu mais recente filme, vencedor do Prémio do Júri, conta-se a história de uma criança que numa fábula quase absurda, decide processar os seus póprios pais. Num tempo em que se pedem novas vozes femininas no cinema, a de Labaki tem-se mostrado das mais peculiares.
4 – “2001 – A space odissey”: Num ano em que um dos filmes maiores de todo o Cinema faz cinquenta anos, os programadores de Cannes decidiram comemorar a ocasião que a projecção do génio de Kubrick. Apresentando uma cópia de 70 mm, para se ver o Espaço e o noss Futuro imaginado na década de 60 com a maior amplitude possível, Christopher Nolan introduziu a obra e porventura tentou redimir-se do amargo de boca no espectador que foi “interstellar”, que tenta beber muito da seminal crianção de Stanley Kubrick. Curiosamente, foi a primeira vez que o filme foi projectado em toda a História do festival, mas bonito mesmo era que estreasse em salas portuguesas, para que gerações de fãs mais novos pudessem contemplar Kubrick como ele merece: seduzindo a audiência com o imenso infinito.
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