No próximo domingo, 1 de Outubro, o TREVIM completa meio século de existência. Bonita e reconfortante existência! O autor destas linhas mais os seis companheiros, todos na casa dos 20 anos, que nos juntámos para encetar esta jornada, descomplexados, mas ainda desconhecedores do que seria ter a Censura à perna, estávamos convencidos, uns mais do que outros, de que íamos ser capazes de fazer passar nas páginas do jornal, pequeno no formato mas grande nas intenções, uma linguagem que pudesse traduzir a mensagem dos ideais da geração de 60 (década de 1960), a que estávamos umbilicalmente ligados. Quiséssemos ou não, não podíamos escapar a essa conjuntura temporal, que se tornou um facto histórico. Na directriz, ou, como hoje se diz, no estatuto editorial publicado na edição nº 1, deixámos bem claro: “os jovens que agora se abalançam a trazer ao convívio da Imprensa Portuguesa (…) o jornal regionalista lousanense TREVIM” (…) “sentem-se jovens conscientes do seu tempo e, por isso, querem integrar-se nele, no que verdadeiramente significa a palavra ‘integração’.”
Mais atrás também ficou clarificado que “não desconhecem eles as dificuldades, os problemas que o seu gesto lhes vai trazer à sua vida, até agora, pacata”. Nesse sentido se asseverou que “são igualmente bem conhecedores das responsabilidades que lhes cabem na sociedade” em que vivem. Por isso, “julgam que devem intervir na discussão dos problemas que afectam a vida lousanense, porque pensam constituir útil contributo para um melhor esclarecimento dos mesmos”. Assumiu-se que “porão nesse labor todo o saber, todo o entusiasmo e toda a experiência que as suas idades lhes conferem”.
Tudo isto porque entendíamos que era preciso despertar as consciências dos nossos concidadãos para o exercício da cidadania plena (que também passava pela intervenção directa no jornal), que nos/lhes era negada pela ditadura salazarista que, então, ainda controlava a seu bel-prazer as potencialidades materiais e humanas do país. Por exemplo, através da Censura.
Foi um enorme desafio, este a que nos propusemos. Constatámos, porém, ao fim de relativamente pouco tempo, que tínhamos alcançado o nosso objectivo, que a recepção do nosso trabalho tinha sido gratificante. Os nossos conterrâneos tinham acreditado na firmeza dos nossos propósitos, o que ficou evidenciado pela colaboração enviada, pelo aumento progressivo do número de assinantes e, ao mesmo tempo, com a ajuda publicitária de algum comércio e de alguma indústria da nossa terra, pudemos superar as dificuldades económicas que se nos opunham. A passagem, no ano de 1979, da propriedade do jornal para a Cooperativa e a posterior profissionalização do pessoal da administração e da redacção tornou o projecto mais sólido e permitiu que tivesse sobrevivido, para já, cinquenta anos. Aqui chegado é justo relevar o trabalho desenvolvido por largas dezenas de membros da Cooperativa, cujo esforço e entrega, “por amor à causa”, contribuíram definitivamente para a afirmação do TREVIM como um jornal ao serviço da Lousã e dos lousanenses, tendo ficado sempre bem vincado que “TREVIM nega-se a ser o veículo de uma determinada doutrina religiosa ou das aspirações ideológicas desta ou daquela facção”, conforme está igualmente consagrado no número 1 do jornal.
Pedro Júlio Malta, fundador e atual diretor
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